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Em defesa do meio ambiente, contra a barbárie do capitalismo e o fogo-amigo do governo Lula

Vitor Machado*


O terreno nunca esteve tão fértil ao cultivo dos ideais ecossocialistas na cabeça da classe trabalhadora, que precisa entender que só haverá futuro se não destruirmos as condições de vida humana na Terra. Não há mais tempo para negociar com a natureza. Ou se escolhe o caminho da salvação de nossa espécie, ou seguimos rumo ao autoextermínio. A barbárie do capitalismo e da democracia burguesa transformam o meio ambiente em moeda de troca e instrumento de chantagem. Assim, serra, pela raiz, qualquer tentativa de fazer florescer uma solução à crise ambiental. A luta popular, mais uma vez, se apresenta como único caminho.

No Brasil, as chantagens do Congresso Nacional, o discurso conciliador do presidente Lula e agenda neoliberal dos poderes da República fazem queimar a esperança que havia brotado no povo, fruto das promessas semeadas na campanha eleitoral e nesse início de mandato, como zerar o desmatamento na Amazônia e cuidar dos povos originários. Quando coloca agronegócio e agricultura familiar como organismos em simbiose, tenta explorar petróleo na bacia amazônica, aceita a poda do ministério do Meio Ambiente, enquanto, ao mesmo tempo, recebe machadadas como a aprovação do marco temporal na Câmara, o governo expõe uma imensa clareira de limitações e contradições.

Não existe qualquer simetria entre o atual governo e seu antecessor. A gestão de inspiração fascista de Jair Bolsonaro plantava mentiras de que a crise climática seria apenas delírio das esquerdas. Assim, abria a trilha para a exploração, sem restrições, de todas as áreas ainda preservadas no Brasil. Mas também se torna difícil enxergar, agora, em meio à fumaça das queimadas do Cerrado e aos ataques de pragas como o presidente da Câmara, Arthur Lira (PL) e seus aliados, qualquer saída que possa responder à urgência imposta pelo problema. Não há mais tempo para medidas de longo prazo quando já se ultrapassou o ponto de retorno. Ou o povo parte para uma rebelião ecossocialista para ontem, ou não haverá amanhã.

Os conciliadores ditos progressistas se arvoram como defensores da natureza, baseados em dados que mostram como a chegada de Michel Temer à presidência e o governo de seu sucessor, Jair Bolsonaro, jogaram gasolina no fogo da destruição dos biomas brasileiros. Algo que, nos governos petistas, porém, embora em brasa mais branda, também ardia. A escandalosa construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, a tragédia de Mariana com o rompimento da barragem da Vale que matou o Rio Doce, entre outros ataques sofridos pelo meio ambiente, aconteceram nos anos de gestão do Partido dos Trabalhadores, vale lembrar.

Os números do primeiro trimestre de 2023, divulgados pelo Ibama, podem parecer animadores para quem os lê sem lentes ecossocialistas. Foram registrados índices referentes à fiscalização como: aumento de 219% dos autos por desmatamento e outras infrações contra a flora na Amazônia, de 133% das apreensões de bens e produtos relacionados às infrações ambientais e de 93% de embargos de propriedades. Sob o olhar revolucionário, no entanto, tais dados soam como tentar apagar as queimadas do Cerrado com baldes d’água.

Segundo dados divulgados no dia 5 de maio de 2023 pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), o acumulado do desmatamento no Cerrado nos quatro primeiros meses do ano atingiu 2.133 km², o maior já registrado desde o início da série histórica, em 2019. Ou seja, supera todos os anos do governo genocida e fascista de Jair Bolsonaro.

Sem força para manter de pé florestas e discursos, o governo assistiu à perda de poderes do Ministério do Meio Ambiente, comandado por Marina Silva. A ministra, vencedora da queda de braço com seus aliados sobre a exploração de petróleo na região amazônica, sofre pressões dentro e fora do governo, enquanto o Congresso ataca por todos os lados. Aprovado na Câmara dos Deputados a toque de caixa, o marco temporal, cujo objetivo é impedir a demarcação de terras indígenas que não estivessem ocupadas à época da promulgação da Constituição Federal de 1988, agora tramita em ritmo mais lento no Senado. O presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD), que nem de longe pode ser confundido como um defensor da causa ambiental, pisa no freio, em movimento motivado pelo pedido de vistas do ministro bolsonarista do Superior Tribunal Federal André Mendonça durante julgamento da constitucionalidade da matéria. Pacheco não hesitará, no entanto, em trocar de pé para pisar no acelerador quando considerar necessário.

A caracterização feita por Lula do agronegócio e da agricultura familiar como atividades complementares e que vivem em simbiose ignora o envenenamento dos solos, o lobby pelo direito de destruir e a exploração de trabalho análogo à escravidão que estão longe de serem exceções entre os grandes produtores. A resistência de Marina Silva à exploração de petróleo no Amapá perfurou a relação entre ela e seu ex-correligionário Randolfe Rodrigues, que já foi do Psol e, hoje, líder do governo no Senado, anunciou sua desfiliação da Rede, partido da ministra do Meio Ambiente. Alinhado nessa disputa a figuras como Davi Alcolumbre, do União Brasil, o senador deve encontrar abrigo no PT de Lula.

Lula tenta se equilibrar entre o discurso verde, que agrada parte de sua base de eleitores, e as demandas incendiárias de um Congresso reacionário. Enquanto isso quatro deputadas do Psol (Célia Xakriabá, Sâmia Bomfim, Talíria Petrone e Fernanda Melchionna) e duas do PT (Erika Kokay e Juliana Cardoso) entram na mira do Conselho de Ética e correm o risco de terem seus mandatos cassados por terem chamado de assassinos parlamentares que votaram a favor de acelerar a tramitação do marco temporal.

Negociar com o outro lado é apostar na possibilidade de controlar a barbárie. O que mostra que o fogo que queima nossos biomas é, também, “amigo”.


*Vitor Machado é jornalista e militante da Rebelião Ecossocialista


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