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10 coisas que Mark Zuckerberg poderia fazer pela liberdade de expressão

Ademar Lourenço

Atualizado: 20 de jan.

A presença de Mark Zuckerberg na posse de Trump inaugura uma nova era nas redes sociais. Pela primeira vez, o dono da Meta, empresa que controla Instagram, Facebook e Whatsapp, está assumidamente a serviço de um governo. Mesmo sendo bilionário, ele tinha uma áurea de “rebelde”. Era visto por muitos como mensageiro de um futuro brilhante e inovador, uma alternativa a “burocratas” autoritários. Agora é diferente. Antes da posse, Zuckerberg anunciou mudanças para se adequar à agenda do novo Presidente. Além disso, colocou pessoas ligadas à Trump no conselho de sua empresa. A Meta, na prática, vai funcionar como uma estatal.


De acordo com Zuckerberg, a primeira medida da Meta a serviço do governo Trump é acabar com a checagem de fatos e liberar as Fake News sem filtros. Essa e outras mudanças estão sendo feitas, segundo o bilionário, para garantir a “liberdade de expressão” e “empoderar a comunidade”.


Sabemos que isso não é verdade. Mas aqui vai algumas medidas que Zuckerberg poderia tomar para realmente promover a liberdade de expressão e “empoderar a comunidade”.

 

1: Que tal ter um algoritmo que não reduza a entrega de postagem de pessoas negras? Pois é, o Instagram faz isso. Quando alguém entra na rede da Meta, as postagens já aparecem na frente da pessoa para ela ficar horas na tela do celular vendo fotos e vídeos. Não foi o usuário que decidiu ver aquilo, as publicações já estavam lá. Mas quem decidiu por aquelas postagens e não outras?  Foi o algoritmo, um programa de computador que filtra milhares de conteúdos que poderiam chegar até o usuário, exclui a maioria absoluta e “entrega” apenas algumas dezenas no “feed”, que é a tela que todo mundo fica “rolando” com o dedo.

 

2: Ter algoritmos mais transparentes certamente ajudaria muito a “empoderar a comunidade”. Até hoje não sabemos porque parlamentares de esquerda perderam seguidores no X, rede de Elon Musk. Como Zuckerberg agora também é um soldado a serviço de Donald Trump, essa prática deve se repetir nas redes sociais da Meta. Na verdade, isso já acontece. Postagens denunciando o massacre do povo palestino já estão tendo o alcance reduzido. Seria uma ótima medida dar transparência para as regras desses algoritmos e deixar os usuários pelo menos fazer sugestões sobre o funcionamento deles.

 

3: É muito bom ouvir de Zuckerberg que o Instagram e o Facebook devem “voltar às origens”. Antes de 2014, quando alguém postava em uma página do Facebook, o conteúdo aparecia automaticamente para mais de 12% dos seguidores. A partir de 2014, esse número passou para cerca de 6%. Em 2018, esse alcance foi reduzido para menos de 1%. No Instagram, essa lógica foi ampliada e hoje é impossível ser relevante nessa rede sem pagar postagens. Que tal acabar com esse filtro e voltar a entregar os posts para os seguidores das páginas sem a necessidade de pagamento? Isso sim, seria voltar às origens.

 

4: Outra medida importante seria defender  a volta da neutralidade da rede. Em dezembro de 2017, o fim desse modelo foi aprovado nos Estados Unidos e isso mudou a internet. As empresas de telecomunicação agora podem decidir que a velocidade de acesso a alguns sites seja maior, enquanto outros tenham o acesso mais lento. Ou seja, o controle da internet não é algo “virtual”, é físico mesmo. É o velho controle dos meios de produção. Neste caso, dos meios de distribuição de informação. Com o fim da neutralidade, é quase impossível a criação de uma nova rede social, pois o acesso a ela seria mais lento. A volta do antigo modelo tornaria viável o desenvolvimento de alternativas ao Instagram. Mais opções para os consumidores é mais liberdade e comunidade empoderada.

 

5: Apoiar medidas contra os oligopólios da internet seria importante para a liberdade de expressão. Se um empreendedor com novas ideias, como o jovem Zuckerberg dos anos 2000, quiser fazer uma nova rede social, ele terá vários obstáculos. As grandes empresas são donas dos computadores de alto desempenho que fazem o processamento de dados necessário para que as redes funcionem. Elas também controlam os grandes servidores, onde a informação é armazenada. Essa infraestrutura custa bilhões de dólares, sendo acessível apenas para quem é absurdamente rico. E essas pessoas absurdamente ricas, de posse dessa infraestrutura, podem controlar a distribuição do conteúdo das redes sociais.

 

6: Zuckerberg não defendeu a liberdade de expressão de Chelsea Manning, Edward Snowden e Julian Assange quando eles denunciaram crimes de guerra dos Estados Unidos e sofreram com prisões e processos judiciais. Para o dono da Meta, só nazistas e militantes de extrema-direita devem ser beneficiados com a “liberdade de expressão ilimitada”. Que tal denunciar o assédio institucional contra quem expõe crimes do governo dos EUA e das grandes empresas?  

 

7: Apagar perfis por ordem do governo dos EUA não é exatamente uma prática em defesa da “liberdade de expressão”, mas a empresa de Zuckerberg faz isso desde 2018. Ela inclusive tem grande histórico colaboração com os serviços de repressão estadunidenses. Apesar de praticar a censura, o fundador da Meta reclamou da Justiça do Brasil, que remove conteúdo criminoso dentro do devido processo legal. Porque é correto apagar perfis a pedido do governo dos Estados Unidos e errado respeitar decisões judiciais na América Latina? A “liberdade de expressão” só serve para quem está a serviço do imperialismo?

 

8: Impedir o roubo dos dados das pessoas seria uma medida interessante para “empoderar a comunidade”. A Meta há anos coleta todo o tipo de dados pessoais de seus usuários sem nenhuma transparência. Esses dados são apropriados por empresas como a Cambridge Analytica, que os usou para a campanha de Donald Trump em 2016.

 

9: Uma medida muito boa para a liberdade de expressão seria apoiar o fim das regras extremamente autoritárias de direitos autorais. Os mais jovens nem devem saber que antigamente a internet era um local de livre fluxo de informação, mas as grandes empresas acabaram com tudo. Agora, se um pequeno produtor de conteúdo usar 3 segundos de uma música no seu vídeo, pode ser punido. Tudo em nome do lucro das empresas detentoras da propriedade intelectual de músicas, filmes e outros conteúdos artísticos.

 

10: Uma comunidade de pessoas viciadas e com problemas de saúde mental pode ser “empoderada”? Ficar “rolando” o Instagram tem um efeito parecido com jogar em uma máquina de caça-níqueis. Isso já é comprovado. A forma como as redes sociais foram programadas induzem ao uso compulsivo, que prejudica a saúde mental. Um dos primeiros acionistas do Facebok, Sean Parker, confirmou isso. Para crianças e adolescentes, os efeitos são piores ainda. Por isso a Austrália proibiu o uso de redes sociais para menores de 16 anos. Apoiar medidas como essa é fundamental para proteger quem ainda está com o cérebro em formação. Só é livre quem tem está capacitado para a escolha.

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