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Jamila Bonfá

As mulheres no serviço público e a construção da resistência

Quando falamos de serviço público, uma análise da luta diária das mulheres como servidoras públicas precisa estar na ordem do dia.

Segundo dados da Republica.org, somos a maioria da população brasileira (51%) e maioria no serviço público, somos cerca de 61% dentre os servidores. Porém quando falamos de cargos de maior poder e maior remuneração, observamos a chamada desigualdade vertical, que quanto mais alto o cargo na escala de poder e remuneração, menos mulheres observamos ocupando esses cargos, e recebendo cerca de 25% menos que homens.

No cotidiano do trabalho administrativo, nós mulheres precisamos o tempo todo provar que temos o conhecimento e somos qualificadas para exercer determinada função. Enquanto aos homens isso não é cogitado, é subentendido que eles “dão conta do recado”, não são colocados na mesma posição de dúvida, principalmente quando falamos de homens brancos-cisgenero-heterosexuais.

No espaço de trabalho da saúde bem como da educação, as mulheres são maioria esmagadora e, é preciso ter consciência do porquê isso acontece. É resultado da divisão sexual do trabalho, em que as profissões mais voltadas ao cuidado, são socialmente delegadas às mulheres e, por consequência, têm menores remunerações.

É difícil chegar a um cargo de maior poder, e quando chegamos, principalmente na condição de mães, somos penalizadas pelo acúmulo de trabalho com o trabalho doméstico, penalizadas por perda do cargo após licença maternidade, além de outras questões como falta de garantia de espaços adequados para amamentação.

Algo muito importante que precisamos destacar, é o acesso das mulheres negras ao serviço público. Há uma desproporção gritante, e quando estão em maior número são em funções terceirizadas, como auxiliares de serviços gerais, serviços de portaria e recepção.

Quando falamos de mulheres trans e travestis, onde estão? Sequer vemos nas salas e corredores dos órgãos públicos.

Quando optamos por nos organizar politicamente e lutarmos por nossos direitos, nos sindicatos de nossas categorias, somos perseguidas e,  mais uma vez, nossa capacidade de trabalhar com qualidade é questionada e colocada à prova.

Nesse sentido, o sucateamento do serviço público é uma política que acirra estas desigualdades, pois com contratações por tempo determinado, se submetendo a baixos salários e péssimas condições de trabalho, cada vez mais servidoras se afastam por problemas de saúde mental.

Portanto, é muito importante lutarmos pela garantia de concursos públicos e, que sejam garantidas políticas afirmativas para o ingresso e permanência de nós mulheres e principalmente das mulheres negras e transsexuais nesse setor, pois a garantia de cargos efetivos para esses grupos da população também é uma forma de reduzir privilégios de um pequeno grupo de homens que dependem de indicação política.

Como servidoras públicas efetivas e organizadas que possamos continuar lutando por melhores condições de trabalho e combatendo as perseguições.

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