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É preciso construir uma alternativa ecossocialista!

Atualizado: 21 de dez. de 2023

Depois de quase 12 meses decorridos do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva na presidência da República, publicamos o primeiro editorial da Rebelião Ecossocialista.


Foi um ano muito difícil para a classe trabalhadora no Brasil e no mundo. Ano em que os sintomas do colapso ambiental ficaram mais visíveis para as massas, com os efeitos explícitos do aquecimento global, tanto em shows grandiosos quanto no cotidiano das cidades brasileiras, sem luz, com enchentes devastadoras e em temperaturas insuportáveis. Mas tudo o que aconteceu esse ano estava previsto pelos não suficientemente ouvidos cientistas do clima, por ecossocialistas e diversas vertentes do socioambientalismo.


É difícil decidir qual foi o golpe mais duro na humanidade em 2023. A barbárie em Gaza certamente a abalou de forma inédita. Com quase 20 mil mortos até o dia 18 de dezembro de 2023., sendo 10 mil crianças, o massacre israelense nos tornou mais monstros do que nunca. A luta pela liberdade do povo palestino é hoje a condição sine qua non para que possamos nos considerar humanos.


Mas o ataque à humanidade que atingiu sua condição de ser vivo de forma mais estrutural foi o aprofundamento da destruição ambiental, em especial de seus ecossistemas mais diversos, como a Floresta Amazônica e Pantanal. Comemoramos no início do ano a reativação do IBAMA, ICMBio e INPE, Ministério do Meio Ambiente e criação do Ministério dos Povos Originários. Como resultado direto da retomada da ação fiscalizadora contra criminosos ambientais, houve a redução de 22% do desmatamento na Amazônia em 2023. Porém, essa é uma redução absolutamente insuficiente diante da necessidade imposta pelo colapso ambiental escancarado. Segundo estimativas de cientistas, compiladas por Luiz Marques, é em mais ou menos 2030 que alcançaremos um aumento de 1,5 ℃ na temperatura média superficial acima do período pré-industrial, isso se continuarmos no ritmo atual de destruição ambiental. O desmatamento na Amazônia precisa ser reduzido em 100%, não 22% (o que ainda representa uma perda de 9 mil km ou 7,5 vezes a cidade do Rio de Janeiro), para termos alguma chance de isso não acontecer.


Paralisar por completo a degradação da maior floresta tropical do mundo é muito importante, mas tampouco bastará. Outras medidas precisam ser combinadas a essa para evitarmos nosso autoextermínio. O fim da utilização de combustíveis fósseis é uma das mais importantes. Nesse contexto, a atitude do presidente da Colômbia, Gustavo Petro, assinando o Tratado de não proliferação de combustíveis fósseis, foi corajosa e necessária. Mais do que isto, contrastou com a entrada do Brasil na Opep+, o que manchou a participação de Lula na COP 28, em Dubai, e representou uma grande baixa da luta socioambiental mundial, visto o papel negacionista e antiecológico da Opep no mundo atual e a importância do Brasil como protagonista da transição ecológica planetária.


Para piorar, a Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis no Brasil fará um megaleilão no dia 13 de dezembro para distribuição de 602 novas áreas de exploração, incluindo 21 blocos na bacia do Rio Amazonas, sendo 12 com impacto direto em pelo menos 20 comunidades indígenas e zonas de amortecimento, além de 15 unidades de conservação.


Por um lado, Lula diz que o Brasil só entrou na Opep+ para fortalecer a agenda de transição energética também nesse meio. Por outro lado, o presidente da Petrobrás, Jean Paul Prates afirmou uma posição oposta: declarou que a empresa estatal será uma das últimas no mundo a abrir mão da exploração do petróleo. Não por acaso, o governo brasileiro foi o vencedor do antiprêmio “Fóssil do dia”, dedicado a personalidades, governos e empresas que se destacam pelo bloqueio a ações que enfrentem a mudança climática. É preciso pressionar Lula e seu governo a mudar radicalmente sua visão e denunciar que tal posição não é compatível com uma transição ecológica.


Enquanto isso, no Norte da América do Sul, Maduro mobiliza o povo venezuelano para tentar tomar um território que hoje pertence à Guiana, onde se localiza Essequibo, região rica em minérios, especialmente o petróleo, pouco povoada e pouco protegida militarmente. Para não lidar com a crise estrutural venezuelana, o líder autoritário aponta para uma solução catastrófica, que pode resultar em um conflito envolvendo o Brasil, visto que além de serem dois países fronteiriços conosco, a provável ofensiva venezuelana deve passar por nossos domínios. Até o momento, a postura de Lula tem sido tímida, porém de conteúdo acertado: alertar Maduro e mover tropas brasileiras para a fronteira venezuelana. A América Latina e o mundo não podem aceitar mais outra guerra, menos ainda com o objetivo de ampliar a exploração de combustíveis fósseis e de agravar a degradação ambiental.


Muitas razões podem explicar a ascensão de líderes de extrema-direita no século XXI, a exemplo de Javier Millei, empossado como presidente da República no último domingo na Argentina. A incapacidade de setores progressistas em proporcionar alternativas que contemplem o povo nos marcos da economia liberal talvez seja a principal delas. E hoje à ampliação da desigualdade social, a partir do empobrecimento da maioria da população, se soma a progressiva impossibilidade de sobreviver no mundo superaquecido e degradado que o capitalismo construiu, sobretudo nos últimos 60 anos. É preciso derrubar Millei e todo e qualquer governo protofascista, mas sem uma alternativa radicalmente ecologicamente sustentável, estaremos apenas enxugando as geleiras de nossos pólos.


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