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As eleições no Rio de Janeiro: seguir enfrentando Paes e derrotar a extrema-direita!

Atualizado: 20 de nov.

O PSOL desempenhou um papel fundamental nas eleições do Rio de Janeiro ao ousar ter uma candidatura própria. A candidatura de Tarcísio Motta na capital carioca foi de enorme importância, reafirmando o partido como a principal força de oposição ao governo de Eduardo Paes. Desde o início, sabíamos que seria uma eleição desafiadora, mas a candidatura de Tarcísio representou uma resistência clara e necessária frente à gestão de Paes, que constantemente ataca os trabalhadores e transforma a cidade em um balcão de negócios. Além disso, Tarcísio sai fortalecido com os movimentos sociais de luta urbana e com uma parcela dos servidores municipais, especialmente os professores. Nesse sentido, o PSOL se mantém como o principal partido de esquerda em oposição ao governo municipal, uma posição que essa candidatura procurou reafirmar.


Dentro desse contexto, merece destaque a candidatura de Rick Azevedo, representando o movimento VAT (Vidas Além do Trabalho), sendo o candidato mais votado do PSOL, com 29.364 votos. Ele ganhou força ao colocar como prioridade a defesa dos direitos dos trabalhadores, especialmente a crítica à escala 6x1, que impõe jornadas exaustivas. A pauta de Rick, em defesa de condições de trabalho mais justas e humanizadas, ressoou entre eleitores que enfrentam uma rotina desgastante e lutam por uma qualidade de vida melhor, retomando a pauta da vida além do trabalho, que é uma bandeira histórica da esquerda. Essa abordagem mostrou o acerto da sua candidatura ao focar em um problema concreto e urgente, o que impulsionou seu desempenho nas urnas e reforçou a importância do PSOL em defender pautas diretamente ligadas aos direitos trabalhistas. Não é por acaso que seu mapa eleitoral é um contraste profundo com o mapa tradicional de votos do PSOL, concentrando-se na Zona Norte e Zona Oeste em vez da Zona Sul e Centro. Além disso, Rick soube usar a comunicação na internet de uma maneira inovadora, superando obstáculos geográficos e permitindo ao PSOL entrar em áreas nas quais tradicionalmente enfrentava dificuldades.


A eleição no Rio de Janeiro, no entanto, foi marcada por um ambiente frio e desmobilizado, em que Eduardo Paes conseguiu capitalizar o apoio de grande parte do eleitorado carioca. Ele construiu alianças estratégicas com setores bolsonaristas, neopentecostais, milicianos e, ao mesmo tempo, obteve apoio significativo de partidos e grupos que, teoricamente, pertencem ao campo progressista, como o PT, PSB e PDT. Esse leque de alianças, que uniu desde a direita conservadora até setores da esquerda moderada, foi um dos pilares de sua vitória. O eleitorado “senso comum” da esquerda caiu no canto da sereia do voto útil em Eduardo Paes contra a candidatura de Ramagem, o que tirou votos do PSOL em algumas áreas da cidade, entre servidores públicos e entre a juventude.


Para a esquerda carioca, o resultado das eleições revelou algumas lições importantes. Primeiramente, ficou evidente que os grandes acordos políticos com a burguesia, a entrega dos interesses da cidade e uma campanha com forte estrutura financeira foram fatores decisivos para a vitória da máquina da prefeitura. Entretanto, vale destacar que setores progressistas, que deveriam estar em oposição a esse modelo, acabaram se alinhando com Eduardo Paes, adotando posturas que em muitos aspectos se assemelham às dele. 


Além disso, é importante ressaltar que o bolsonarismo ainda possui força significativa no Rio de Janeiro e não foi derrotado. A presença de setores bolsonaristas na capital mostra que, mesmo após o governo Bolsonaro, a extrema-direita permanece atuante e influente. Isso evidencia a necessidade da esquerda carioca combater não só a prefeitura de Eduardo Paes e suas políticas, mas também a extrema-direita, que continua mobilizando parte da população no Rio e no resto do Brasil. Esse é um alerta para a construção de uma oposição ampla e articulada que enfrente tanto os problemas locais quanto o avanço da extrema-direita. Porém, essa oposição tem que vir acompanhada de luta real na base e articulada com os movimentos sociais, estudantis e sindicatos. Durante a campanha, muitos militantes perceberam que a juventude carioca está mais reacionária, o que acende o alerta para a atuação da esquerda nesse setor.


Outro ponto que essa eleição revelou foi a capacidade da direita de dialogar com pautas de opressão, tradicionalmente defendidas pela esquerda. Diversas figuras da direita foram eleitas levantando essas bandeiras, o que evidencia uma apropriação desse discurso em benefício próprio. Esse fenômeno aponta para uma fragilidade do PSOL, que pareceu não conseguir ir além do debate identitário e acabou sem uma diferenciação clara frente a algumas figuras que estavam coladas com a campanha do PSD. Essa limitação nos alerta para a necessidade de aprofundar o debate e expandir as pautas, evitando que as discussões identitárias se tornem um fim em si mesmo e sejam facilmente cooptadas por aqueles que não têm compromisso com a transformação social. Não à toa, a pauta classista defendida por Rick Azevedo ganhou protagonismo. A aliança da questão classista com as questões de opressão deve ser melhor trabalhada pelo partido nos próximos anos. Além disso, o PSOL optou nacionalmente por priorizar de maneira bastante desproporcional a candidatura de Guilherme Boulos à prefeitura de São Paulo, prejudicando a candidatura de Tarcísio. Os recursos de pré-campanha foram aquém da importância da candidatura na capital do Rio de Janeiro. Durante a campanha, os recursos foram desproporcionais se comparados com candidaturas de outras cidades. Também foi sentido o impacto do abandono da estrutura partidária baseada em núcleos de bairro, resultando no esvaziamento e pouco engajamento da militância não profissionalizada. Precisamos retomar essas construções.


Por fim, é preciso reorganizarmos as lutas, estarmos firmes para os próximos anos e que nenhuma derrota eleitoral nos abale e sim crie forças para estarmos mais preparados para as batalhas. A eleição não é o fim, apenas o meio. Nossa luta é cotidiana e lado a lado com os movimentos sociais, estudantis e sindicatos.


Sergio Augusto Belerique - Membro da Executiva Nacional da Rebelião Ecossocialista

Sidarta Landarini - Cientista Social e militante da Rebelião Ecossocialista




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