Liderança, protagonismo, empreendedorismo, "o que rola por aí". Tem causado espanto a muitos trabalhadores(as) da educação observar o que vem acontecendo com o currículo das escolas públicas conforme a implementação o Novo Ensino Médio vai avançando.
Disciplinas como História, Geografia, Química, Biologia, Filosofia, Sociologia e Educação Física têm a sua carga horária reduzida e chegam a desaparecer completamente em alguns momentos do ensino médio para dar lugar a uma verdadeira colcha de retalhos.
Uma consequência sentida pelos professores(as) da implementação do NEM têm sido o aumento da sobrecarga de trabalho. Agora, os docentes precisam lidar com o planejamento de diversas disciplinas paralelamente. Além disso, a redução da carga horária de suas disciplinas de origem produz uma consequência: será necessário contratar menos professores de cada área, uma vez que disciplinas como "liderança" ou "protagonismo" podem ser assumidas por qualquer professor(a), sem especificação da formação deste profissional da educação.
Ao adotar disciplinas típicas de um ideário neoliberal e individualista, o NEM produz um empobrecimento do currículo das escolas públicas, aumentando a desigualdade entre instituições públicas e privadas.
Além disso, há uma redução do espaço para o pensamento crítico nas escolas. Neste último ponto, vemos que o NEM chega para cumprir aquilo que a escola sem partido não conseguiu realizar, substituindo disciplinas relevantes para a construção da consciência acerca das contradições sociais por componentes típicos de um ideário neoliberal.
NOVO ENSINO MÉDIO: UM “PROJETO DE VIDA” PRECÁRIA
O fundamento ideológico do Novo Ensino Médio é a formação de trabalhadores flexíveis, um exército de "empreendedores", nome com o qual o grande capital busca camuflar as formas mais recentes de precarização do trabalho. O NEM é a reforma trabalhista nas escolas, sua implementação prepara o terreno para generalizar relações de trabalho sem direitos.
Por isso, além da luta contra o novo ensino médio ser necessária para afirmarmos uma educação pública de qualidade, consideramos que este é um passo necessário para questionar toda a lógica perversa que vem sendo imposta na atual etapa do capitalismo.
CAPTURADO PELAS FUNDAÇÕES, O GOVERNO/MEC NÃO TRABALHAM PELA REVOGAÇÃO
Atualmente, o governo federal tem revelado sua indisposição em revogar o NEM. Embora tenha enviado um projeto que o revisa algumas partes, segue cedendo ao lobby das fundações privadas, que hoje operam nas secretarias de educação, mas que atingem também o MEC sob a liderança de Camilo Santana.
Embora a conferência nacional de educação tenha aprovado de maneira unânime a bandeira do REVOGA NEM, o governo não se move para levar esta pauta adiante. O projeto que propôs ao congresso nacional, agora desfigurado pela ação do ex-ministro de Temer, Mendonça Filho, recupera tudo que há de pior no NEM. Da parte do governo, não há um enfrentamento a esses interesses, mas uma política de subordinação aos interesses empresariais representados pelas fundações privadas (Lemman, Itaú, Vivo Telefônica, Ayrton Senna etc.).
REVOGAR O NEM SÓ É POSSÍVEL COM A FORÇA DAS LUTAS
Está evidente que somente a mobilização massiva dos trabalhadores e trabalhadoras da educação, somada com a força dos estudantes, poderá reverter no calor das lutas o enorme retrocesso que é o NEM. Contudo, o papel que jogam até aqui entidades como a CNTE, a CUT e seus sindicatos é o de conter a indignação da categoria e dos estudantes para não provocar desgastes ao governo por sua vacilação nesta matéria.
Nós, que construímos o setor sindical da Rebelião Ecossocialista, entendemos que é o momento de radicalizar esta luta. Compreender o Revoga NEM como parte da luta para revogarmos todo o entulho bolsonarista (contrarreformas trabalhista, previdenciária, autonomia do banco central e privatizações). O governo não está disposto a enfrentar nenhum desses temas. Mas cada um deles é fundamental para um futuro com dignidade para nossa classe.
Por isso, é preciso afirmarmos também no âmbito da educação um sindicalismo independente dos governos e do Capital, que não deixe os trabalhadores(as) a própria sorte lidando com os graves retrocessos acumulados nos últimos anos.
Um projeto de educação que se paute pela emancipação humana não será possível sem questionarmos a lógica destrutiva do Capital na ofensiva contra a natureza e contra os direitos da classe trabalhadora. O Novo Ensino Médio representa uma visão antagônica a essa, o que justifica o seu forte apoio por parte das elites econômicas. Nesta matéria, como em outras, não há conciliação possível. Revogação JÁ!
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