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Convite à construção de uma organização ecossocialista

  • Insurgência Reconstrução Democrática e Rebelião Ecossocialista
  • 4 de jul.
  • 8 min de leitura

Desde o crash financeiro de 2008 e a recessão global que se seguiu, o mundo viu o aprofundamento da crise com o neoliberalismo e a especulação financeira explodir bolhas. Ao mesmo tempo em que políticas de austeridade levaram à redução do orçamento público voltado à garantia de direitos. 


O desenvolvimento tecnológico guiado pela dinâmica do capital reduziu ou precarizou postos de trabalho estáveis e viabilizou novas formas de manipulação. A crise ambiental agrava-se a cada dia, a despeito dos riscos evidentes que traz para a própria vida no planeta, evidenciando os limites de um sistema que se move exclusivamente atrás do lucro. A pandemia do novo coronavírus aguçou tais problemas, que afetam desigualmente a população. 


Neste quadro adverso, a extrema direita,  ainda que sirva ao sistema hegemônico, apresentou-se como saída (brutal para as maiorias sociais). As potências imperialistas intensificaram a disputa por territórios, como a guerra na Ucrânia, desencadeada pela agressão da Rússia de Putin e utilizada para reviver a Otan e ampliar a militarização da Europa. Na África, a disputa por riquezas minerais utilizadas pelas maiores empresas de tecnologia do mundo intensifica conflitos, como o vivido na República Democrática do Congo. Entretanto, o que se passa no Oriente Médio – especialmente o genocídio em curso na Palestina – desperta um horror especial. Depois de 8 décadas de colonialismo, o Estado sionista de Israel, construído a partir da expulsão da maior parte de palestinos de seu território e que impõe um regime de apartheid, tem mostrado sua incompatibilidade com qualquer ideia de respeito à dignidade e à vida humanas.  O apoio irrestrito do imperialismo “ocidental”, especialmente dos EUA, para o qual Israel serve como base militar na região, tem servido como autorização para uma “limpeza étnica” que o mundo assiste em tempo real. 


Tal quadro atualiza o dilema “socialismo ou barbárie” que, mais que um diagnóstico, deve nos levar à ação revolucionária. A esquerda, em suas diversas expressões, não deixou de lutar, mas tem encontrado dificuldades para se fortalecer e apresentar um programa social renovado e mobilizador, capaz de oferecer respostas a esse conjunto de crises. 


No Brasil, a extrema direita conseguiu se estruturar a partir da enorme hegemonia do agronegócio, do fundamentalismo religioso, do populismo penal e também da ação do judiciário e da mídia em torno do problema da corrupção, contando, ademais, com as plataformas digitais controladas por grandes grupos capitalistas para se projetar.


O campo progressista, atacado pelo andar de cima e atravessado pela fragmentação do mundo do trabalho e pelos limites programáticos impostos pela estratégia de conciliação petista, não apostou na mobilização social e nem sequer em uma agenda de reformas, tornando-se, no máximo - o que é fundamental, porém limitado - anteparo institucional contra o avanço da extrema direita. Nesse mesmo período, a esquerda socialista não conseguiu reverter o processo de fragmentação organizativa da classe, com suas próprias organizações políticas se dividindo, ao mesmo tempo em que se viu inundada por recursos financeiros, fundos eleitorais e emendas parlamentares, cristalizando estruturas de poder burocráticas desmobilizantes.


Diante de todos estes desafios, acreditamos que devemos partir do patrimônio teórico político acumulado pela IV Internacional, tanto no plano nacional, como  internacional, com destaque para o Manifesto por uma Revolução Ecossocialista, aprovado no Congresso Mundial deste ano. 


Em nosso país, há várias organizações que se identificam com este acúmulo, mas acreditamos que nenhuma delas, hoje, pode ser considerada capaz de se constituir no eixo de reorganização da seção brasileira da Internacional. A organização que será capaz de cumprir este papel terá de ser construída a partir da experiência de várias organizações, num plano de igualdade de toda a militância que se comprometer com este projeto.


Para enfrentar a extrema direita; resistir à fragmentação, à burocratização e à perda da autonomia; e avançar na formulação e na disputa de um projeto de sociedade revolucionário, este manifesto conclama coletivos e militantes que se referenciam na IV Internacional, como também aquelas/aqueles que concordam com as seguintes tarefas e perspectivas, a construir uma nova organização ecossocialista:


1. Entendemos ser fundamental uma organização que anime e apoie as mais diversas frentes de luta que expressam as contradições do sistema capitalista em relação aos seres humanos e à natureza, tendo como orientação a compreensão da urgência da superação do modo capitalista de produção e a estratégia ecossocialista. Tem destaque especial hoje nosso apoio à luta do povo palestino e a defesa de uma Palestina plenamente democrática, com igualdade para todas e todos que vivem nela, do Rio ao Mar. O que está em jogo na Palestina não é apenas uma questão humanitária ou uma questão política importante: é a configuração das condições internacionais de luta nos próximos anos.


2. Uma organização que aposte na mobilização como método de enfrentamento e reversão da hegemonia da extrema direita, em todo o mundo. Que reconheça a centralidade e a diversidade dos sujeitos em contradição com o capital para a transformação social, buscando, nesse sentido, mobilizar e/ou se somar às mobilizações da classe trabalhadora, das mulheres, cis e trans, de negros e negras, de indígenas, de povos e comunidades tradicionais, da população LGBTQIAPN+, e PCD das juventudes e outros grupos sociais - com especial atenção às novas formas de organização do trabalho, como precarizados e plataformizados e aos servidores públicos.

 

3. Entendemos que o maior desafio da esquerda socialista hoje é dar saltos organizativos e criar novas ferramentas para a organização da classe, o que passa também pela compreensão da importância da cultura e da comunicação como espaços de formação da nossa identidade coletiva e de mobilização. Uma esquerda que viva uma cultura política que resgate os valores socialistas, valorize a troca de saberes, que supere estruturas de micropoder, em que o cuidado e o companheirismo sejam sempre estimulados, mesmo na divergência.

 

4. Quanto à participação da militância revolucionária no interior de partidos anticapitalistas amplos como o PSOL, entendemos que nossa tarefa central é atuar para que o partido sempre amplie sua vida orgânica, mantenha espaços democráticos, debata e incorpore um programa de transição ecossocialista. Ou seja, mantenha-se como uma organização viva e em disputa, não ossificada por hegemonismos e maiorias artificiais. Serão esses objetivos que guiarão a política de alianças da futura organização no interior do PSOL.


5. A autonomia do PSOL, nesse contexto, deve ser protegida dos assédios advindos da estratégia de conciliação de classes petista e, também, do aparato de Estado, como das emendas e dos fundos eleitorais. É essa autonomia da esquerda radical que dará garantias de que o partido seja instrumento de defesa das propostas progressistas assumidas nas eleições de 2022 pela candidatura de Lula.  É essa autonomia o que tem possibilitado posições críticas à política econômica atual, que contrai gastos sociais e fomenta o complexo agro-minero-industrial ecocida, às ameaças de exploração de petróleo na foz do Amazonas e em muitos outros temas, como segurança pública e política de comunicação. Ao mesmo tempo permite a defesa de posições progressistas tomadas pelo governo, como a denúncia internacional ao genocídio em Gaza e a proposta de isenção de Imposto de Renda de quem recebe até R$ 5.000,00 vinculada ao aumento da tributação dos mais ricos.

 

6. É fundamental ter em vista que a possível participação em uma frente eleitoral que comporta partidos burgueses e fisiológicos, devido à conjuntura de ameaça da extrema direita não deve levar o PSOL a se diluir programaticamente numa estratégia que entende a frente ampla como perene. Nessas situações, entendemos ser fundamental que o PSOL se apresente com perfil próprio e contribua para construir uma frente de esquerda.

 

7. É tarefa da esquerda radical empenhar esforços no combate central à extrema direita. Para tanto, é necessário estruturar uma unidade ampla contra o neofascismo, pautada na unidade para a ação e nos interesses da classe trabalhadora. Isso significa que, nas lutas em torno das liberdades democráticas, buscaremos construir alianças, mas sem abandonar a centralidade da classe trabalhadora para unificar nossas lutas, portanto sem abandonar as demandas dos explorados e das oprimidas.

 

Esse manifesto é a base inicial de um diálogo que acontecerá nos próximos meses, e para o qual convidamos a militância ecossocialista e a referenciada na IV Internacional. A convergência de setores e militantes demanda a construção de sínteses que expressarão as bases de uma nova organização ecossocialista.

 

Como escreveram Marx e Engels no Manifesto Comunista, “Tudo o que era sólido e estável se desmancha no ar. Tudo o que era sagrado é profanado, e os homens [e mulheres!] são obrigados, enfim, a ver suas condições de existência e suas relações recíprocas com olhos desencantados”. O tempo em que vivemos, permeado por tantas agruras, reproduz tal diagnóstico. Diante desse quadro, afastemos a desesperança. Encontremos fortalecimento e sentido na vida coletiva. Nunca foi tão importante se organizar!!


Que venha uma nova e potente organização ecossocialista!!



Conheça algumas das pessoas que já estão nesta construção:


Ademar Lourenço (Distrito Federal) - Jornalista, mestrando em psicologia social e membro do diretório do PSOL no DF


Afrânio Castelo (Ceará) - Diretório Estadual do PSOL 


Agnes Viana (Mato Grosso do Sul) - Coordenação Nacional da Juventude IRD


Ailton Lopes (Ceará)  – 1º Suplente de Vereador PSOL Fortaleza


Aisha Capanema (Minas Gerais) - Coordenação Nacional da Juventude IRD


Alcebiades (Bid) (Rio de Janeiro) - Ex-Bureau IV Internacional  


Aline Cristina Mello Til (Rio Grande do Sul) - Mestranda em Agronomia (UFPel) e Movimento de Agroecologia


Allan Coelho (São Paulo) -  Professor de filosofia


Ana Carolina Andrade (São Paulo) - Jornalista, CI da IV Internacional


Ana Clara Souza (Rio de Janeiro) – Diretora de Movimentos Sociais da UNE


Ana Lia  Galvão (São Paulo) – Coordenação Nacional do Ecoar


Antonio Mota Filho (São Paulo) - Professor universitário


Arthur Moreira (Espírito Santo) - Bancário


Bruna Jacob (Bahia) - Ex diretora da UNE e Coordenação Nacional de Juventude da IRD.


Bruno Nascimento (Paraná) - DCE da UFPR


Camila Viviane (Paraná)  - Diretório Municipal do PSOL Foz Iguaçu (PR)


Carla Benitez (Bahia) - Professora da Unilab, diretora eleita do ANDES-SN


Cecília Feitosa (Ceará) -  Militante ecossocialista, Ex-Presidenta do PSOL estadual


Cheron Moretti (Rio Grande do Sul) -  Militante feminista, educadora popular e professora universitária


Dodora (Rio de Janeiro) - Dirigente do Sindicato dos Profissionais de Educação 


Eduardo d’Albergaria (Distrito Federal/Bahia) - Servidor público, CI da IV Internacional


Elidio Alexandre Borges Marques - (Rio de Janeiro) - Professor da UFRJ


Evelyn Silva (Rio de Janeiro) - Executiva estadual do PSOL


Fernanda Banyan (São Paulo) - Marcha pelo Clima


Fernanda Malafatti (São Paulo) - Professora da rede municipal de São Paulo


Gabe Moreira (Rio de Janeiro)  – Executiva do DCE da UFF


Gabriel Augusto  (Pernambuco) – Dirigente da CSP-Conlutas


Gustavo Seferian (Minas Gerais) -  Professor da UFMG, presidente do ANDES-SN


Helena Martins (Ceará) - Professora da UFC, jornalista, Diretora eleita do ANDES-SN


Isadora Salomão (Bahia) - Executiva estadual do PSOL, Dirigente do Movimento Negro Unificado/MNU 


Jamila Bonfá (Espírito Santo)  - Presidenta do Conselho Municipal de Saúde de Cariacica


Jessica Rebouças (Ceará) - Executiva estadual do PSOL


João Machado (São Paulo) - Bureau da IV Internacional


Juan Leal (Rio de Janeiro) - Presidente municipal PSOL carioca


Leninha (Rio de Janeiro) - Dirigente do Movimento Negro Unificado/MNU 


Leonardo Amatuzzi (Rio de Janeiro) – Conselheiro Tutelar


Luciana Miranda (Rio de Janeiro) -- Diretório PSOL Valença


Marcelo Lima (Ceará) – Diretório Nacional do PSOL


Mario Barreto (Rio de Janeiro) - Diretório Nacional do PSOL


Mauricio Gonçalves   (Pernambuco) – Professor do IFPE


Mateus Albuquerque (Paraná) - Cientista Político e Fazedor da Rede Curitiba Climática (RECC)


Milena Gomes (Pernambuco) - Professora da Rede Estadual de Educação


Natália Proença (Rio de Janeiro) - Coordenação Nacional de Juventude - IRD


Paula Marchon  (Rio de Janeiro) - Ex-coordenadora do DCE da UFF


Renato Roseno (Ceará) - Deputado Estadual PSOL 


Ronaldo Bragança (São Paulo) -  Diretório Estadual do PSOL 


Salada (Rio de Janeiro) -- Dirigente do Movimento Negro Unificado/MNU


Sergio Augusto Belerique (Rio de Janeiro) – Executiva PSOL Rio de Janeiro


Talita Victor (Distrito Federal) - 1ª suplente Deputada Distrital 


Tayse Palilot (Bahia) - Militante ecossocialista, professora da UFOB


Tessie Reis (Ceará) - Professora,  Diretório Estadual do PSOL


Thiago Jerohan (Pernambuco) - Conselheire Estadual de Saúde e de Direitos da População LGBTQIAPN+


Tiago Nicolini (São Paulo) – Dirigente da FNP


Veraci Alimandro (Rio de Janeiro) - Diretório PSOL carioca


Wilton Porciúncula (Rio de Janeiro) - Dirigente do Sindicato de Professores SEPE


Essas são assinaturas representativas dos setores e de militantes que ora iniciam esse processo de construção.


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“Como seria a condição humana se não houvesse militantes?


Não porque os militantes sejam perfeitos, porque tenham sempre a razão, porque sejam super-homens e não se equivoquem. Não é isso.


É que os militantes não vem para buscar o seu, vem entregar a alma por um punhado de sonhos.


Ao fim e ao cabo, o progresso da condição humana depende fundamentalmente de que exista gente que se sinta feliz em gastar sua vida a serviço do progresso humano.


Ser militante não é carregar uma cruz de sacrifício.


É viver a glória interior de lutar pela liberdade em seu sentido transcendente”.


Pepe Mujica

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