Todos às ruas no 7 de setembro contra Trump e Bolsonaro!
- Coordenação Nacional da Rebelião Ecossocialista
- 1 de set
- 5 min de leitura
O tarifaço que Donald Trump impôs ao Brasil é um dos maiores ataques imperialistas de nossa história. O caso pode ser comparado à interferência dos Estados Unidos no golpe de 1964. Isso se soma às ameaças militares contra a Venezuela. Trump quer a América do Sul sob seus pés.
Mas o que o imperialismo quer? O Brasil tem a segunda maior reserva de terras raras do mundo. Esses recursos minerais são cada vez mais valiosos, sendo usados, por exemplo, na fabricação de motores de carros elétricos. A fala de Lula sobre a proposta do dólar deixar de ser a moeda internacional também deixou o presidente dos Estados Unidos furioso.
Além disso, Donald Trump é parceiro dos donos das grandes empresas que controlam as redes sociais, as Big Techs. Por isso quer punir o Brasil pela tentativa de regulamentar a comunicação por internet. Ter a distribuição da informação controlada por algoritmos de grandes empresas não tem nada a ver com liberdade de expressão. Entre os problemas do controle algorítmico, está a “adultização” de crianças denunciada recentemente pelo influenciador Felca. A União Europeia já regulamentou as redes sociais e não foi acusada de ser uma “ditadura”.
O tarifaço pode afetar a economia brasileira em R$ 25 bilhões no curto prazo, o que corresponde a menos de 0,3% dos 11,7 trilhões do nosso Produto Interno Bruto de 2024. Em dois anos, cerca de 140 mil empregos podem ser perdidos, o que corresponde a aproximadamente 0,3% dos 48,4 milhões de carteiras assinadas no país. Os efeitos diretos serão pequenos. Mas há os efeitos indiretos. Cadeias produtivas serão afetas e mercadorias como carne, mel, frutas e café terão dificuldade em encontrar compradores. O consumo e o investimento podem ser reduzidos diante do medo de uma crise. E cidades que têm a economia dependente da exportação podem ter o comércio e a prestação de serviços afetados. É difícil calcular os efeitos indiretos, inclusive porque não sabemos exatamente a eficácia das medidas do governo. Dentro do quadro mais provável, a perda não será devastadora, mas também não será insignificante.
E Bolsonaro? O filho do ex-presidente, Eduardo, abandonou o mandato de deputado federal e foi aos Estados Unidos fazer lobby contra o Brasil. A provável prisão de seu pai foi uma das desculpas para Trump fazer o tarifaço. Com isso, o presidente dos Estados Unidos consegue mascarar seus verdadeiros interesses. A mesma direita que se dizia “patriota” agora está contribuindo com um ataque imperialista contra nosso país.
O bolsonarismo não tem a mesma força de antes e dificilmente vai impedir a prisão de seu líder. Áudios vazados mostram tensão e divisão interna entre as pessoas próximas de Bolsonaro. Seu julgamento está marcado para começar em setembro. Mas não podemos subestimar a extrema-direita no Brasil. Ela ainda tem força e consegue colocar alguns milhares nas ruas, além de ter grande presença nas redes sociais. Devemos estar atentos à possiblidade deles tentarem colocar o país no caos, como fizeram no ato golpista de 8 de janeiro de 2023.
Mesmo com prisão de seu líder, a extrema-direita no Brasil ainda tem uma ampla base eleitoral. Quem pode se aproveitar de um “bolsonarismo sem Bolsonaro” é o que podemos chamar de direita dos governadores. Tarcísio de Freitas, de São Paulo, Romeu Zema, de Minas Gerais, Ratinho Júnior, do Paraná e Ronaldo Caiado, de Goiás, já demonstram intenções de se candidatarem à presidência e ganhar os eleitores do ex-presidente. A dificuldade é eles se unificarem em apenas uma candidatura.
Lula conseguiu reagir bem ao início do tarifaço. Sua popularidade teve um leve aumento depois de discursos contundentes em defesa da soberania do Brasil e o anúncio de empréstimos para os empresários. Mas se o impacto da medida de Trump em nossa economia for considerável, os planos de reeleição do atual presidente ficam mais difíceis.
Diante desse cenário, qual é o papel dos ecossocialistas? Em primeiro lugar, não somos nacionalistas no sentido burguês da palavra. A luta da classe trabalhadora é internacional. No entanto, defendemos a autodeterminação dos povos. Ela é essencial para que uma população se emancipe de acordo com sua cultura e sua realidade. Isso é o que ensinam os autores clássicos do marxismo, como Lênin e Trotsky. Por isso defendemos uma nação quando ela é atacada pelo imperialismo.
Imperialismo, aliás, foi um tema muito estudado por Lênin. Um de seus aspectos é o poder que a burguesia de um país tem de explorar outro país por meio de artifícios econômicos. O Brasil, por exemplo, vende produtos agrícolas de baixo custo e compra produtos industrializados de alto custo. Isto traz uma série de problemas. Os nossos medicamentos, por exemplo, dependem de compostos cujos preços são definidos pelo mercado internacional. Várias empresas que tem um marketing “ecologicamente correto” na Europa adotam práticas predatórias nos países na América Latina.
E o que acontece hoje no Brasil é um exemplo de intervenção imperialista. Donald Trump representa a burguesia de seu país, que quer explorar o nosso povo com práticas econômicas desleais. Ele também quer impor para nós um governo que seja capacho dos interesses dos Estados Unidos. E Bolsonaro se prestou a esse papel.
Por isso é nosso dever estarmos nos atos contra o ataque de Trump. O “grito dos excluídos” é feito tradicionalmente no dia 07 de setembro. Ele é um meio de levar a voz dos povos originários, dos descendentes de pessoas escravizadas e de todos os que que foram explorados em mais de 500 anos de história do Brasil. As direções majoritárias da esquerda já marcaram manifestações.
Devemos manter nossa independência em relação ao governo Lula por uma série de motivos. Entre eles, a manutenção do arcabouço fiscal, a insistência na exploração de petróleo na região amazônica e o veto apenas parcial ao PL da devastação. Mas é nossa tarefa a unidade de ação em defesa da autodeterminação do povo brasileiro.
Inclusive devemos exigir das direções majoritárias da esquerda que haja empenho real na mobilização para o ato. As últimas manifestações organizadas pela Frente Povo sem Medo e Frente Brasil Popular não foram bem convocadas, por isso foram pequenas. É necessário chamar o povo às ruas por meio de trabalho de base, engajamento nas redes sociais e uso dos recursos materiais de sindicatos e mandatos.
E não podemos nos esquecer de outras lutas. A solidariedade ao povo palestino, que passa por um processo violento de fome em massa, é necessária. O Brasil infelizmente segue produzindo petróleo para a máquina de guerra de Israel. Isso inclusive gerou protestos de petroleiros. Os preparativos para os atos durante a COP30 em Belém são importantes, pois os povos afetados pelas mudanças climáticas devem ser ouvidos. E em novembro temos a marcha das mulheres negras.
Defendemos a autodeterminação do povo brasileiro e estaremos nas ruas contra o imperialismo de Donald Trump e da burguesia dos Estados Unidos. E vamos levar as bandeiras dos trabalhadores, das mulheres, do povo negro, das LGBTIA+ e do ecossocialismo.
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